Suicídio de policiais, um tabu que deve ser debatido


Essa semana chamou atenção uma pesquisa divulgada pelo GEPESP (Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção). Segundo os dados levantados pelos pesquisadores entre 2017 e 2018 mais do que dobrou o número de policiais que se mataram no país. Em 2017 ocorreram 28 casos de suicídios e no ano seguinte esse número subiu para 67, uma alta de 140%. Para esse estudo foram incluídos agentes de segurança pública das diversas polícias estaduais e federais.

Com relação aos números de 2018, o levantamento apontou que a maioria das vítimas era do sexo masculino, com idade média de 39 anos e muitos eram policiais operacionais, dos mais diversos setores. As armas de fogo foram o meio mais utilizado para o ato e metade das ocorrências aconteceu em casa. Porém os números reais podem ser muito maiores do que os encontrados nessa pesquisa.

Em uma pesquisa realizada em 2015, também pelo GEPESP, 18.007 policiais de todo o país responderam a um questionário online sobre o tema. Nas respostas 3.225 afirmaram que já haviam cogitado se matar e que 650 deles haviam tentado, sendo que quase metade não informou a ninguém sobre a tentativa. Esse quadro afeta até as instituições consideradas de maior prestígio como a Polícia Federal. Sonho de muitos que desejam ser policiais, o ambiente interno da instituição policial mais admirada do país repete o cenário encontrado nas pesquisas. Entre 1999 e 2018, 47 policiais e delegados cometeram suicídio, o que daria uma taxa de suicídios 9 vezes maior do que a média da população, segundo dados do Ministério da Saúde.

Em um ambiente de trabalho onde a busca por ajuda pode ser entendida como fraqueza, fragilidade e incompetência, os agentes de segurança pública acabam entrando em quadros de depressão e estresse pós-traumático, situações que podem ser gatilhos para o suicídio. O problema é que apesar desse diagnóstico e dos números apresentados, a questão dos suicídios entre policiais não é tratada como um tema de agenda pública, o que atrapalha a formulação de políticas públicas e institucionais para tratar dos problemas de saúde mental.

Um governo que afirma ter a segurança pública como prioridade, deve entender que os profissionais de segurança pública são pessoas, não apenas números, e, para que possam cumprir seus objetivos devem receber o apoio adequado do Estado e de suas instituições. A sociedade não quer uma polícia doente.

Fonte: Folha
Foto: Artes e Design Puc-Rio


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